Número de reclamações subiu de 152, em 2018, para 239, em 2022. Sindicato dos postos afirma que adulteração é um problema crônico.

A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) registrou, nos últimos cinco anos, um aumento de 57% no número de denúncias recebidas sobre a qualidade de combustíveis em Campinas (SP). Os dados foram obtidos pela EPTV, afiliada da TV Globo, via Lei de Acesso à Informação (LAI)

Em 2018, a agência contabilizou 152 reclamações referentes à comercialização de combustíveis fora da especificação na metrópole. Já em 2022, o total de denúncias passou para 239. Veja, abaixo, os dados ano a ano.

Denúncias de irregularidades na qualidade de combustíveis em Campinas (SP)

Adulteração
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Campinas (Recap), Emílio Martins, diz que a adulteração de combustível é um problema crônico e que tem ramificações com o crime organizado.

“A ANP, juntamente com a Secretaria da Fazenda em convênios que têm, elas combatem isso de forma bem forte. O problema é que nós somos 44 mil postos no Brasil, e certamente a agência tem poucos fiscais. É um campo fértil para essas quadrilhas”, pontua.
Martins destaca, ainda, que o sindicato recebeu uma denúncia de que cerca de 15 postos da região estariam adicionando metanol ao etanol e à gasolina, uma substântica proibida no Brasil e que pode trazer riscos à saúde.

Ainda de acordo com o presidente do Recap, um pedido de investigação foi protocolado pelo sindicato ao GAECO do Ministério Público.

Denúncias
Superintendente de Fiscalização do Abastecimento da ANP, Francisco Nelson Castro Neves explica que todas as denúncias recebidas pela agência são estudadas, mas somente cerca de 30% são observadas em campo, levando em conta fatores como denúncias repetidas e histórico da empresa.

“Uma série de elementos é considerada dentro do nosso planejamento, mas em todas elas a gente estuda, observa e formaliza manifestações junto às empresas, de tal maneira que a gente possa, da forma mais ampla possível, atender os consumidores”, diz.

Segundo Neves, as distribuidoras precisam informar à ANP sobre todos os combustíveis comercializados no Brasil, o que faz com que a agência tenha um número grande de informações para dar apoio às decisões de fiscalização.

“Deste grupo [de 30%] que nós escolhemos, porque eles já são escolhidos com o cruzamento de informações de outros bancos de dados, nós temos um estudo de que em torno de 50% têm algum tipo de irregularidade, não necessariamente a que ele indicou”, explica.

Prejuízo
O analista de TI Mored Berdat diz que costuma ser cuidadoso, mas teve um prejuízo de mais de R$ 5 mil após abastecer o veículo em um posto de combustíveis na região central. Esta, inclusive, não foi a única vez em que ele sofreu com combustível adulterado.

“No dia seguinte, o motor começou a falhar. Levei ao mecânico e ele afirmou que, além do cilindro, poderiam ser muito mais coisas. Acabou chegando no cabeçote do veículo. A gente teve um grande gasto nele, de peças auxiliares”, relembra.