Rafael de Brito deixou a família em Potirendaba (SP) e raspou a conta bancária com o objetivo de conquistar o sonho americano. Ele está de volta ao Brasil e compete no rodeio internacional de Barretos.
Campeão mundial da montaria em touros nos EUA em maio deste ano, Rafael de Brito foi o primeiro brasileiro estreante a conquistar a tríplice coroa. Faturou não só o título individual, mas também o de novato da temporada e ainda o de campeão da etapa final em Fort Worth, no Texas.
Aos 31 anos, o atleta de Potirendaba (SP) faturou a premiação de US$ 1,39 milhão, o equivalente a R$ 5,1 milhões na cotação do mês da vitória dele em solo americano.
De volta ao Brasil após escrever o nome no hall da fama dos rodeios, ele ainda não sabe se vai voltar a competir lá fora. “Eu monto aqui, o Brasil nosso é bem gostoso”, diz.
Em busca do sonho
O peão é o 13º brasileiro a deixar o nome na história da montaria mundial e conta com orgulho que partiu sozinho na empreitada de conquistar a América.
Ele já montava desde os 15 anos influenciado pelo pai, Ricardo de Brito, um dos principais competidores nos anos 1980 e 1990. No Brasil, disputou provas amadoras e profissionais por causa da paixão herdada e para imprimir sua marca na modalidade.
Há mais ou menos um ano e meio, Brito decidiu deixar a família no interior de São Paulo para ir em busca do sonho americano. Raspou da conta bancária as economias que tinha, se despediu da mulher e dos filhos, de 3 e 10 anos, e entrou em um voo para o estado americano do Texas com a cara e a coragem.
Diferentemente de atletas como Adriano Moraes, Silvano Alves e Guilherme Marchi, que foram exportados para os EUA após conquistar títulos importantes no Brasil, Brito começou por baixo.
“Fui para os EUA, fui por conta, com a cara e a coragem. Eu tinha o sonho de ir, deu certo de tirar os papéis, peguei o avião e vazei pra lá. Fui montando nos rodeios abertos até classificar para entrar no top e aí foi dando certo.”
Chegada à elite
De montaria em montaria na segunda divisão do rodeio, somou pontos para chegar à elite e terminou por entrar na Professional Bull Riders (PBR) e encarar a briga pelos prêmios milionários e para escrever o nome na galeria dos campeões.
Para se ter uma ideia, em 2022, o The American, considerado o rodeio mais bem pago do mundo, garantiu ao vencedor a bagatela de US$ 2 milhões, estabelecendo um recorde.
Na grande final da PBR em maio deste ano, Brito não era o favorito. Chegou em nono lugar, e a disputa dava como certo o campeonato de Kaíque Pacheco, que é de Itatiba (SP) e liderava a competição. O brasileiro, no entanto, acabou não entrando na arena porque sofreu uma fratura. Mas a pontuação era tão alta que Pacheco tinha margem para vencer mesmo sem competir.
Quem o ameaçava de perto era José Vitor Leme, de Ribas do Rio Pardo (MS), considerado atualmente nos EUA o Michael Jordan das arenas. Apesar disso, Leme foi mal nos últimos rounds e acabou superado por Brito, que ainda deixou Pacheco comendo poeira.
Pódio triplo do Brasil, mas com o título inédito de Brito, um feito que até ele teve dificuldade de assimilar.
“Quando eu ganhei, demorou uns pares de dias para cair a ficha, a realidade. A gente fica feliz porque é mais um título que vem para o Brasil. Fiquei muito feliz.”
Relação estremecida
Com o troféu garantido, Brito decidiu voltar às origens e ainda acabou envolvido em uma polêmica. Quando retornou ao Brasil, o atleta tinha contrato com o time Texas Rattlers, na modalidade do rodeio por equipes da PBR. Como infringiu o regulamento, foi suspenso por dois anos pela liga.
“Fizemos o contrato por um ano e depois era para três anos e eu não sabia ler, nem nada, eu não combinei no contrato com eles. Eu falei que não ia voltar e me suspenderam. Foi por causa disso. Eu já estava ciente que a suspensão poderia acontecer, eles não quiseram pagar mais, eu não quis renovar e eu voltei.”
Em comunicado, a PBR informou que Brito violou as regras ao se ausentar sem justificativa.
“De Brito, membro do Texas Rattlers que não retornou aos Estados Unidos para competir na temporada de 2023 Teams, violou os acordos dos atletas da Liga ao não divulgar sua ausência ao enviar seu acordo de piloto.”
O peão não sabe ainda se vai voltar aos EUA. Por mais que tenha virado celebridade, afirma que encontrou dificuldades e que o fato de estar longe da família pesou sobre ele.
“Lá é bem diferente, a boiada é bem mais pesada do que a nossa. Pra me adaptar lá é bem mais complicado. Eu fui sozinho, não levei minha família, aí foi bem mais complicado. Eu fiquei sozinho esse tempo todo. Não consegui aprender a língua, aprendi bem pouco.”
Favorito no Barretão
Em Barretos (SP), Brito é um dos favoritos para vencer o Rodeio Internacional, que começou na noite desta quinta-feira (24). Foi apresentado com pompa e circunstância na arena na abertura da competição, intimidando os oponentes.
Mas, no rodeio, tudo é incerto. Na sua estreia, ao encarar o touro Colorado, da boiada de Zeca da Juína, aterrissou no chão antes do cronômetro travar em oito segundos.
Não pontuou, porém a disputa está aberta e ele, confiante.
“Estou com boa expectativa. Se Deus quiser, vai dar tudo certo. Vou pegar firme nesse Barretão.”