Ricardo Krause foi condenado a 24 anos de prisão em 2018, mas TJ anulou júri em 2020. Sophia Kissajikian Cancio Najjar morreu asfixiada com um saco plástico dentro do apartamento do pai.

Lígia Kissajikian Câncio, mãe de Sophia Kissajikian Cancio Najja, de 4 anos, morta por asfixia em 2015, disse nesta terça-feira (23) esperar que o pai da menina seja novamente condenado pelo assassinato da filha.

Em entrevista ao Programa Encontro, da Rede Globo, ela comentou sobre a dor e a luta por Justiça nesses oito anos desde a morte de Sophia.

“Já são quase 8 anos em busca de justiça. A perda de um filho na vida de uma mãe é uma dor irreparável, não dá pra descrever. E essa luta tem sido diária, afirmou.

O novo júri de Ricardo Krause Esteves Najjar, deve ter início nesta quarta-feira (24), no Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo.

“Seria muito importante que o Ricardo confessasse o que aconteceu, porque eu acho que uma boa parte dessa injustiça tá ligada a ele ter feito o que ele fez e ter jogado a responsabilidade nela, como se ela tivesse colocado uma sacola, sendo que a responsabilidade é dele. Então, ele cria uma mentira e vive naquela mentira”, disse Lígia.

O primeiro julgamento, que o havia condenado a 24 anos e 10 meses de prisão em 2018, foi anulado após dois anos (entenda abaixo).

Segundo apurado pelo g1, o novo júri está previsto para acontecer nos dias 24, 25 e 26, às 13h. Trinta testemunhas foram intimadas pela Justiça.

Um segundo júri chegou a ser marcado para 30 de janeiro deste ano, mas foi adiado.

Relembre o caso
O crime foi registrado em dezembro de 2015, no Jabaquara, Zona Sul. A criança foi encontrada asfixiada com um sacola plástica na cabeça. Na época, a defesa do pai alegou se tratar de um “acidente doméstico”, pois a criança estaria brincando com a sacola.

Ricardo foi preso no velório da menina e ficou um ano preso. Foi solto antes do julgamento por “excesso de tempo de prisão temporária”. Voltou a ser preso em março de 2017.

Em 2018, Ricardo foi julgado e condenado a 24 anos e 10 meses de prisão por homicídio doloso, quando há intenção de matar, duplamente qualificado. Ele também foi condenado pelos jurados por fraude processual, por ter supostamente alterado a cena do crime. Na época, o cozinheiro estava preso na Penitenciária de Tremembé, no Vale do Paraíba.

Em setembro de 2020, porém, o Tribunal de Justiça de São Paulo divulgou que havia anulado o júri que condenou o autônomo.

Os desembargadores que integravam a 12ª Câmara Criminal de São Paulo entenderam, por decisão unânime, que o julgamento que condenou Krause em 2018 era nulo devido à “contradição dos quesitos dos jurados”. Os magistrados determinaram a liberdade provisória do réu.

A defesa de Krause, o advogado Antonio Ruiz Filho, comemorou a decisão na época, afirmando ser “justa”, após “ele aguardar tanto tempo preso pelo julgamento” e pela inconsistência na resposta dos jurados sobre a qualificadora do crime por meio de execução cruel, com o uso de asfixia, já que um dos jurados, segundo o advogado, mudou de opinião durante o julgamento dos quesitos.

Os desembargadores entenderam que, como ele esperou preso pelo julgamento, deveria ser posto em liberdade para aguardar pelo novo júri.

O segundo júri foi remarcado diversas vezes por conta da pandemia e também a pedido da defesa, mas agora a previsão é que ele aconteça nesta semana.

O crime
A menina morava com a mãe, mas passava alguns períodos com o pai. Foi no apartamento de Krause, na Zona Sul de São Paulo, que ela morreu asfixiada com uma sacola plástica na cabeça.

Peritos e investigadores vasculharam duas vezes o apartamento, no primeiro andar de um prédio, no Jabaquara, e não encontraram sinal de que havia outra pessoa no lugar além da menina e do pai no dia do crime. Não havia sinais de arrombamento.

A namorada de Ricardo e a irmã dela, que também moravam no apartamento, disseram para a polícia que não estavam em casa no dia do crime. Ricardo foi preso, dois dias depois, no velório da filha.

Os exames do Instituto Médico Legal concluíram que a criança apresentava manchas roxas pelo corpo, o tímpano rompido e uma lesão na parte interna da boca. O pai de Sophia sempre se disse inocente e contou à polícia que tomava banho e, quando saiu, encontrou a filha com uma sacola na cabeça sem respirar.

Um ano depois da prisão de Ricardo, em dezembro de 2016, o ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal (STF), mandou soltá-lo. Em sua decisão, ele considerou haver “excesso de prazo” na prisão temporária – decretada antes da condenação para preservar as investigações ou evitar novos crimes.