Para José Carlos Portella Jr., empresários bolsonaristas, flagrados conspirando golpe, devem ser detidos se for comprovado que estão ligados a financiamento de atos antidemocráticos

São Paulo – Para o advogado criminalista José Carlos Portella Júnior, membro do Coletivo de Advogadas e Advogados pela Democracia (CAAD), não há ressalvas na operação da Polícia Federal realizada ontem (23) contra oito empresários bolsonaristas flagrados conspirando um golpe de Estado em caso de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de outubro. O pedido partiu da própria corporação no âmbito do inquérito das milícias digitais e foi autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Moraes também determinou o bloqueio das contas bancárias e nas redes sociais dos empresários. Assim como a tomada de depoimentos e a queda do sigilo bancário do grupo. De acordo com a operação da PF, o objetivo é descobrir se os empresários também discutiram, organizaram ou financiaram atos antidemocráticos.

Na avaliação de Portella, em entrevista a Rafael Garcia, do Jornal Brasil Atual, as medidas do STF foram apropriadas. A única observação do advogado criminalista, no entanto, é que a Corte “ainda move suas peças de maneira muito leniente”. De acordo com Portella, apenas pela troca de mensagens, nota-se que é um grupo organizado que representa um perigo ao processo eleitoral, dados os recursos e o alcance que têm, com a possibilidade de terem financiado atos antidemocráticos. “Eles cometeram crimes previstos no Código Penal”, afirma.

Exército virtual
“Estamos chegando às vésperas das eleições e a situação vai ficar feia. Então se o Judiciário não der uma resposta à altura desse tipo de gente, eles vão organizar coisas muito piores, tocar o terror, criar o caos no país para justificar o golpe planejado pelo (presidente Jair) Bolsonaro”, adverte o advogado.

Foram alvos dos mandados de busca e apreensão os empresários Luciano Hang, dono da Havan; Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu; José Isaac Peres, dono da rede de shoppings Multiplan; José Koury, dono do Barra World Shopping, no Rio de Janeiro; Ivan Wrobel, da construtora W3 Engenharia; Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da marca de surfwear Mormaii; André Tissot, do Grupo Serra; e Meyer Nigri, da Tecnisa.

No grupo de mensagens, além de insuflar um eventual golpe, um dos empresários, José Koury, chega a sugerir o pagamento de bônus aos funcionários que votassem de acordo com seus interesses. Na visão de Portella, o grupo deveria responder criminalmente por atentar contra o Estado democrático de direito.

Situação de Aras
“Serão feitas essas diligências investigatórias que fatalmente encontrarão indícios veementes da participação desses empresários nesses atos. E aí esperamos que seja a cereja do bolo que o STF precisa para mandá-los para a prisão. Mas isso pode demorar um pouco e estamos a cinco semanas das eleições, o caldo está fervendo. A todo momento aparecem empresários financiando outdoors equiparando a esquerda ao PCC, em Porto Alegre, por exemplo (…), tocando o terror no país. E o STF ainda está movendo suas peças bem devagar”, contesta.

Ainda nesta terça, uma reportagem do site Jota revelou que entre os aparelhos celulares apreendidos pela PF com esses empresários bolsoanristas também há troca de mensagens com o procurador-geral da República, Augusto Aras. A informação foi confirmada a partir de fontes na Polícia Federal, no Ministério Público Federal (MPF) e no Supremo.

Nesses diálogos, de acordo com o veículo, há críticas à atuação do ministro Alexandre de Moraes e comentários sobre a candidatura de Bolsonaro à Presidência da República. A depender do teor das conversas, o advogado criminalista vê condições para que Aras seja deposto do cargo. O PGR também ocupa o procurador-geral eleitoral. “O procurador-geral da República que deveria acima de tudo zelar pelas instituições e pela regularidade do processo democrático, considerando esse período difícil que estamos passando e iremos passar nos próximos dias, está implicado nessas conversas bolsonaristas”, lamenta Portella.